terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Máquina desfocada



Sem querer, queria coisas
E sem saber ia me tornando a síntese do acaso.
Sem querer fui recortando a vida em movimentos incongruentes
E como uma máquina fotográfica sem foco,
Registrei momentos e ações que não faziam parte do meu contexto
Mas apenas alimentavam minhas dores e esvaziavam minha essência
E no cume do vazio descobri que não há razões externas para a vida
E no âmago do sofrimento e da sofreguidão
Descobri que todas as minhas razões eram apenas formas de negar o próprio ser.
Sem querer quis coisas que não me preenchiam
Desejei amores pequenos,
Falsas diversões,
Deixei a vida ao léo
E parei no porto a ver navios.
E passaram canoas, jangadas e cruzeiros
Mas em nada eu embarcava.
Nada era meu de fato, nada era eu de fato.
As razões da vida, da concretude dos sonhos eu não sabia onde estavam
E fui recortando os passos errados da vida, como se estivesse em uma estrada definida
E em um caminho sem volta.
Mas há retorno sim! Sempre há.  
E então agora percebo que as metáforas, metonímias e todas as figuras de linguagem dos meus discursos
Simbolizavam a ausência do eu, porque expressavam as indefinições dos meus sentidos
E somente descobri o meu vazio
Quando no fundo de mim se concretizou um verdadeiro amor, um verdadeiro querer.  
Algo que eu realmente quis e perdi
Porque nunca soube caminhar em minhas estradas.
Agora, no caminho do preenchimento
Sigo os meus passos lentos, lentos... bem lentos
Em busca do eu que não conheci
Em busca das minhas coerências, verdades, erros e razões.
Sigo apenas em busca do meu foco
Até que possa fotografar e revelar
Os movimentos que são realmente meus,
Até que eu possa querer e embarcar nos navios que são realmente meus.
Até que eu queira apenas o que eu realmente quiser.  

Moabe Breno,
15 – 02 – 11.      



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Marcas da sofreguidão


É difícil ficar no silêncio da própria alma,
É difícil compreender fatos que só têm uma versão.
O bom dos fatos não é a sua veracidade, o bom dos fatos é poder discuti-los  
Mas estou cansado de discutir as mesmas coisas comigo mesmo sempre só.
Coisas que o tempo já varreu, mas eu insisto em solidificar em mim.
Eu queria poder como uma pessoa fria
Apagar as coisas sem dor, sem lembranças
Eu queria poder não recordar, não reviver, não sofrer.
Eu queria como uma pessoa fria não sentir dor
E sem culpa sentir alegrias em meio às mediocridades do encontro.  
Eu queria poder como uma pessoa fria
Apagar as coisas sem dor, sem lembranças
Mas a dor é algo incontrolável, mais forte que as manifestações cotidianas da vitória.
(Ou que as vitórias que se manifestam no cotidiano.)
É difícil perceber que todo esforço e toda vibração foi em vão
Que todas as sementes jogadas caíram em terra árida e seca.
É difícil olhar para seu interior e perceber que o espaço que deveria ser seu
Está manifesto de simbioses do passado,
Revestido em minúsculas expressões que simbolizam grandes erros, grandes decepções.
É difícil reconhecer e assumir o fracasso do amor,
Os erros repetidos e as coisas do acaso sem interpretações.
É difícil superar as marcas da sofreguidão
É difícil sim! Impossível? Sei não.

Moabe Breno,
11/02/11.