domingo, 31 de março de 2013

Construto esquizofrênico


 

E quando ela se manifesta da forma mais inesperada,

Vai desarmando tudo que estava programado.

Ao mesmo tempo é bom e assustador, por ser verdadeiro e incerto.

Desmonta nossos sentidos, como uma porção de coisas miúdas

Corroendo por dentro, consumindo aos poucos...

Devora os sentidos na perspectiva da construção,

Refuta a imaginação

E corrompe tudo que se fez concreto no pensamento,

Na mediação das semioses metafísicas que se estabelecem

Como concretudes de emoção.

É fato que não se consuma,

Ardência que não machuca.

Esperança que não se acaba.

Às vezes uma alegria compulsiva,

Às vezes uma certeza do abstrato,

Às vezes uma prisão que liberta...

Mas é um horizonte finito na certeza do coração.

São as metáforas do acaso,

São os abismos da cognição,

São contrates da invenção.

Assim é paixão,

Rica rima com tudo que é frágil, forte, doce, incerto e abrupto na crueldade do destino.

Um construto esquizofrênico no universo de Platão,

Assim é a paixão!

Moabe Breno.

31-03-13.

 

 

 

sábado, 23 de março de 2013

Abstrato


 

Na história do movimento,

O tempo é narrador insubstituível.

Mas, por vezes, se derrama em recomposições de outrora

Que já não pretendia mais significações latentes.

E vai convergindo as estações, os tempos, o passado e o futuro

Num presente sem precedentes, somente de recordações.

Por outras vezes, o tempo leva o movimento de forma tão intensa

Que os deslizes da vida vão se confluindo em rupturas abruptas

de histórias, relações fracassadas, amizades despedaçadas e mal dizeres do soturno.

O tempo traz sim a narrativa das situações com ou sem significações,

Mas escorre pulsante em cada vibração nova, o receio, o medo, a ansiedade de tudo já distanciado pelo próprio tempo.

Pelos vendavais, ciclones e tempestades de palavras, sentimentos e rumores jogados ao tempo, mas presos no movimento da mudança.

Moabe Breno,

23.03.13

terça-feira, 12 de março de 2013

Híbrido vazio


 
Às vezes é bom sentir medo...

... e às vezes o medo é um limite que inibe a superação do próprio ego. Do eu verdadeiro e daquilo que desejamos no inconsciente.

O medo é uma válvula de escarpe e também uma barreira imposta pela moral que nos reprime.

Sentimos, queremos, podemos e, por medo, nos ferimos;

Sentimos, queremos, podemos e, por medo, nos sucumbimos.

O medo nos leva a abstração das coisas que nos compõem

E se nos leva à socialização, nos cega também para nossas próprias precisões e imprecisões;

Com medo, vestimos a moda, amamos o pop, abominamos o rock;

Com medo, evitamos a dor, fugimos do amor, sagramos sozinhos em universos fugazes;

Com medo, choramos no escuro, no escuro da alma;

E cantamos na lama, as canções sagradas da negação do eu.

O medo nos reprime, nos comprime, nos desfaz.

Reterritorializa o que não sai da gente

Como um híbrido que se forma da negação do ser e da distância do querer.  

Como um híbrido vazio, preenchido pelas certezas que nos afastam de quem somos.

O medo da solidão, o medo da não aceitação, o medo do desafeto... o medo é imprecisão;

É a insegurança da corda bamba, onde levamos nossas emoções;

E construímos horizontes limitados, onde nunca chegamos,

Pois não passamos de abstrações.

E às vezes é bom sentir medo...

Apenas para lembramos que caminhamos tantas vezes pelas nuances da ilusão.

 

Moabe Breno,

12-03-13.