Escutei o tempo
todo aquele grito de desespero.
Era mais a voz da
tristeza, do abandono, da solidão.
Eram expressões
sôfregas de quem compulsivamente sentia saudades.
Ali, naquela
tarde de domingo pós-carnaval,
Ele lamentava a
falta de tudo: da alegria, da brincadeira, da companhia... da felicidade.
Olhava seus
olhos lânguidos, corroídos pelo abandono forçado em que se encontrava.
Em sua dor,
estava a confissão mais estabanada do pesar.
Não tinha como
esconder de quem por ali passasse a falta de tudo que vivera.
E revelava sim,
no canto soturno da sua alma, os momentos mais sublimes da contemplação do
outro, do amor.
Em seu grito de
amargura, em seus gestos de descompasso, em sua busca desenfreada,
Estavam a angústia
de quem espera e a mágoa da solidão.
E em cada ato
seu, eu via a extensão do amor.
Em cada soltura
da sofreguidão, eu via a sensação do fim.
E naquelas
expressões sôfregas eu sentia a tarde de domingo pós-carnaval.
Era um domingo
de cinzas desgastadas pela ânsia do amor;
Buscava versos,
palavras, elaborações frasais... mas não conseguia traduzir aquele drama.
Aquelas
expressões sôfregas corroídas pelo abandono forçado daquele gato
Eram, sem dúvida,
as canções mais fúnebres do folião que espera ansiosamente pelo amor do
carnaval.
Um amor que
talvez não se viva nunca mais.
Um amor de
outrora, percebido nas ilusões do ébrio pela dor.
Era o amor
daquele gato;
Que teve
raptados sua mãe e seus irmãos
E permaneceu
só, durante a folia, no quintal daquela casa lúgubre até o domingo pós-carnaval.
E só as cinzas
do amor.
Moabe Breno,
17-02-2013