domingo, 20 de outubro de 2013

Paixão peirciana




 E quando os sentidos invadem a mente  
Tem-se sintomas de que algo grita há muito tempo no peito.
É indicativo do desejo ardente, que prende, alucina, devora a razão, escancara a essência e domina a vontade do corpo.
Elucida a mais pura verdade que se encontra na primeiridade, no momento do olhar, no inconsciente da paixão.
Imprecisões, medos, olhares atravessados, rancor, pavor... excitação.
Uma busca tímida pela atenção...
A distorção do querer, a desculpa pra falar, a busca pelo comum e o medo de estar a sós...
O conflito entre o sim e o não e a medianidade do talvez  
Indicam uma forma masoquista de prorrogar o que parece ambíguo,
Mas já está latente na secundidade da paixão,
São indicativos que a emoção já não comporta mais no espaço ilimitado do superego,
Daquilo que prende, acovarda, atormente e trai as ações em impulsos incontroláveis dentro do peito.
Devora os sentidos, angustia a alma porque já se apresenta na simbologia do querer, com todas as semioses da verdade consciente que domina o corpo, o sentido, a imprecisão.
A dilatação da pupila, o posicionamento do corpo, o olhar que se perde em tesão, o timbre da voz da sedução e o pulsar acelerado do peito trazem a calmaria corrosiva da terceiridade da paixão.
Que desmistifica teorias do discurso, metáforas acadêmicas e analogias seculares,
Rompendo dimensões semióticas e psicanalíticas dos sintomas da vontade,
Em momento de fantasias na construção de um poema impressionista,
 Com categorias triádicas de uma paixão peirciana.

Moabe Breno,
20-10.13.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Percepção


 

Eu ouço o que seus olhos dizem quando se deparam com os meus.

E sinto o que seu corpo fala na congruência dos pensamentos seus.

Degusto cada palavra sua, com o veneno que entorpece suas negações...

E faço dos seus ‘nãos’ rimas ricas com os desejos meus.

Vejo seu olhar sorrateiro, tímido e acuado para não enfrentar a libido que nos une.

E prendo seu medo a minhas idiossincrasias para te deixar na dúvida do por onde quero trafegar.

Visto minha roupa mais pretensiosa para te impressionar,

E até componho um verso metalinguístico para te embaralhar.

Tomo para mim, a certeza do seu medo e me vejo em você no limiar dos nossos anseios.

Deixo sua concupiscência me percorrer em simbioses do querer

E te trago como figura de linguagem, camuflando mensagens subliminares na guerra fria da conquista.

Dou-lhe uma certeza, para lhe arrancar as imprecisões

Viajo sem pudor na imensidão dos seus beijos, dos seus lábios molhados roçando os lábios meus.

Ultrapasso os limites cognitivos do superego,

Com instâncias cínicas de quem apenas quer um pedaço do seu dia.

Na percepção do antagonismo que nos prende,

Faço do meu corpo, psicanálise,

Para derramar toda a sua catarse

Na melancolia de uma força medonha chamada poesia.

 

Moabe Breno,

12-06-13.

 

 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Anzol teórico


 

No fim do corredor meus olhos miraram na direção daquele aroma.

E em meio a livros e teorias,

Fiz daquele perfume um verso em prosa

Para fugir do abrupto mundo da solidão.

Um universo se formou em mim no tempo de uma informação.

Reterritorializei  o lúdico que já ia longe em meu peito

E formulei uma possível episteme na evasão do seu olhar.

Ardi em mim mesmo por um momento de luxuria,

Ao descer meu desejo por seu corpo.

Mas, cheio de emoções, visualizei cada canto de você

Com os olhos da pureza.

Senti um acréscimo humano em minhas razões

E naquele instante construí um anzol teórico para te pescar,

Desterritorializando seu saber,

Para pulsar um terceiro cogito na imensidão perceptiva

Das fronteiras que nos separam.

 

Moabe Breno

23-04-13. 

 

Metástase do sonhar


 
E a cada nuance das percepções cotidianas,

O universo interno vai se esvaindo em fragmentações dos sonhos, do lúdico do passional.

E o ser, o próprio ser, vai se esvaindo em sofreguidões lúgubres,

Construindo soturnamente as razões da cidadania,

Num esforço inútil de fugir da evasiva e fugaz vivacidade do seu tempo.

São perturbações da mente, incoerências do querer,

São quereres sem objetos, expressões abstratas do nada.

O nada talvez seja o único conteúdo simbólico do que se passa no peito,

E nas constatações do louco que se dedica às semioses da pisque do hodierno.

Não há sentidos, não há motivos, não há constatações.

Apenas teorias evasivas de rumores virtuais do senso comum

Edificam atitudes amorais que sustentam a pequeneza humana.

Há muito mais seres fugidios, perdidos em seus próprios mecanismos da medianidade, que sensações.

Há apenas elucubrações do engano, desfazeres e fazeres fundamentados na psicologia do efêmero.

Em cada nuance das percepções cotidianas há apenas metástases da própria percepção.

O ódio não há mais.

O terror já não abomina.

E o sofrer é apenas sensação de outrora.

Nada fundamente nada.

É o tempo da falta de afago, do sem memória do sem paixão.

Nem mesmo o medo do inferno é capaz de mobilizar se quer um pecador.

Mas qual pecador?

Somos seres inanimados, presos em construtos concretos do fugaz...

E a cada nuance das percepções cotidianas,

Há apenas a metástase do sonhar.

Moabe Breno,

23-04-13.

domingo, 31 de março de 2013

Construto esquizofrênico


 

E quando ela se manifesta da forma mais inesperada,

Vai desarmando tudo que estava programado.

Ao mesmo tempo é bom e assustador, por ser verdadeiro e incerto.

Desmonta nossos sentidos, como uma porção de coisas miúdas

Corroendo por dentro, consumindo aos poucos...

Devora os sentidos na perspectiva da construção,

Refuta a imaginação

E corrompe tudo que se fez concreto no pensamento,

Na mediação das semioses metafísicas que se estabelecem

Como concretudes de emoção.

É fato que não se consuma,

Ardência que não machuca.

Esperança que não se acaba.

Às vezes uma alegria compulsiva,

Às vezes uma certeza do abstrato,

Às vezes uma prisão que liberta...

Mas é um horizonte finito na certeza do coração.

São as metáforas do acaso,

São os abismos da cognição,

São contrates da invenção.

Assim é paixão,

Rica rima com tudo que é frágil, forte, doce, incerto e abrupto na crueldade do destino.

Um construto esquizofrênico no universo de Platão,

Assim é a paixão!

Moabe Breno.

31-03-13.

 

 

 

sábado, 23 de março de 2013

Abstrato


 

Na história do movimento,

O tempo é narrador insubstituível.

Mas, por vezes, se derrama em recomposições de outrora

Que já não pretendia mais significações latentes.

E vai convergindo as estações, os tempos, o passado e o futuro

Num presente sem precedentes, somente de recordações.

Por outras vezes, o tempo leva o movimento de forma tão intensa

Que os deslizes da vida vão se confluindo em rupturas abruptas

de histórias, relações fracassadas, amizades despedaçadas e mal dizeres do soturno.

O tempo traz sim a narrativa das situações com ou sem significações,

Mas escorre pulsante em cada vibração nova, o receio, o medo, a ansiedade de tudo já distanciado pelo próprio tempo.

Pelos vendavais, ciclones e tempestades de palavras, sentimentos e rumores jogados ao tempo, mas presos no movimento da mudança.

Moabe Breno,

23.03.13

terça-feira, 12 de março de 2013

Híbrido vazio


 
Às vezes é bom sentir medo...

... e às vezes o medo é um limite que inibe a superação do próprio ego. Do eu verdadeiro e daquilo que desejamos no inconsciente.

O medo é uma válvula de escarpe e também uma barreira imposta pela moral que nos reprime.

Sentimos, queremos, podemos e, por medo, nos ferimos;

Sentimos, queremos, podemos e, por medo, nos sucumbimos.

O medo nos leva a abstração das coisas que nos compõem

E se nos leva à socialização, nos cega também para nossas próprias precisões e imprecisões;

Com medo, vestimos a moda, amamos o pop, abominamos o rock;

Com medo, evitamos a dor, fugimos do amor, sagramos sozinhos em universos fugazes;

Com medo, choramos no escuro, no escuro da alma;

E cantamos na lama, as canções sagradas da negação do eu.

O medo nos reprime, nos comprime, nos desfaz.

Reterritorializa o que não sai da gente

Como um híbrido que se forma da negação do ser e da distância do querer.  

Como um híbrido vazio, preenchido pelas certezas que nos afastam de quem somos.

O medo da solidão, o medo da não aceitação, o medo do desafeto... o medo é imprecisão;

É a insegurança da corda bamba, onde levamos nossas emoções;

E construímos horizontes limitados, onde nunca chegamos,

Pois não passamos de abstrações.

E às vezes é bom sentir medo...

Apenas para lembramos que caminhamos tantas vezes pelas nuances da ilusão.

 

Moabe Breno,

12-03-13.

 

 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cinzas do amor


 

Escutei o tempo todo aquele grito de desespero.

Era mais a voz da tristeza, do abandono, da solidão.

Eram expressões sôfregas de quem compulsivamente sentia saudades.

Ali, naquela tarde de domingo pós-carnaval,

Ele lamentava a falta de tudo: da alegria, da brincadeira, da companhia... da felicidade.

Olhava seus olhos lânguidos, corroídos pelo abandono forçado em que se encontrava.

Em sua dor, estava a confissão mais estabanada do pesar.

Não tinha como esconder de quem por ali passasse a falta de tudo que vivera.

E revelava sim, no canto soturno da sua alma, os momentos mais sublimes da contemplação do outro, do amor.

Em seu grito de amargura, em seus gestos de descompasso, em sua busca desenfreada,

Estavam a angústia de quem espera e a mágoa da solidão.

E em cada ato seu, eu via a extensão do amor.

Em cada soltura da sofreguidão, eu via a sensação do fim.

E naquelas expressões sôfregas eu sentia a tarde de domingo pós-carnaval.

Era um domingo de cinzas desgastadas pela ânsia do amor;

Buscava versos, palavras, elaborações frasais... mas não conseguia traduzir aquele drama.

Aquelas expressões sôfregas corroídas pelo abandono forçado daquele gato

Eram, sem dúvida, as canções mais fúnebres do folião que espera ansiosamente pelo amor do carnaval.

Um amor que talvez não se viva nunca mais.

Um amor de outrora, percebido nas ilusões do ébrio pela dor.

Era o amor daquele gato;

Que teve raptados sua mãe e seus irmãos

E permaneceu só, durante a folia, no quintal daquela casa lúgubre até o domingo pós-carnaval.   

E só as cinzas do amor.

 

Moabe Breno,

17-02-2013

 


 

 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Doce de jiló


 

Antes era só poesia,

Agora são concretudes do cotidiano.

As formas imagéticas do amor

Foram se consagrando em perspectivas de vida

E em pingos de felicidade no dia a dia.

Uma lembrança triste, a angústia do passado, uma dor,

Fazem parte da cognição.

E saem dos escombros soturnos dos sentimentos,

Para ingressarem no espaço continuo da reflexão.

Com a saudade eu fiz um doce de jiló,

Acrescentei pitadas de excentricidade, porções de maturidade e um tanto de humor.

Bati tudo bem forte até transformar o gosto amargo da memória

Nas insanidades freudianas e libertações de Foucault.

Fiz do corpo um espaço da conquista

E do pensamento a força da vitória.

Distrair meus dias com poesias da infância.

E recresci na constante inconstância

Da palavra amor.

 

Moabe Breno,

01/02/13.