quarta-feira, 16 de março de 2011

Psicanálise



Nos momentos da desconstrução somos todos loucos a procura de um motivo.
Um motivo qualquer que nos tire da mesmice, que revele outras faces e que nos mostre as luzes dos caminhos.
Nos momentos da desconstrução somos nós mesmos nossa própria cruz.
Sofremos, roemos, sangramos e desmascaramos a nós mesmos em uma forma tão descompassada que não percebemos que estamos exaurindo nossas indefinições.
Se somos loucos pela ardência e pela incongruência, também não somos mais que ousadia em plena efervescência da vida.
Se somos loucos, apenas loucos, não passamos desapercebidos e somente depois da exaustão, do peso forte ou leve do sentir, depois de tudo, podemos apreender os nossos sentidos, as nossas mais profundas idiossincrasias.
Sentidos e idiossincrasias camuflados em fantasmas que se alojam lá no ego, às vezes fruto dos superegos,
Frutos de tudo aquilo que passamos, que passamos... que apenas passamos!
Mas é preciso mastigar a indignação e corroer o pensamento metamórfico que ressoa na indigestão dos fatos.
Os fatos! São os fatos que compõem a vida e a vida é uma sucessão de fatos. Por isso a cada dia temos um novo e às vezes surpreendente dia.
E todo dia é dia de Maria. De Maria, de João, de fantasia, de tudo que não passa de insônia no vai e vem da irreverência, da rebeldia, da descoberta do próprio ser.
De tudo aquilo de fato que nos faz ser quem somos: João ou Maria sem máscaras, sem alucinação. João ou Maria, sem precisar de constatação.
Moabe Breno,
15-03-11.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Alinhamento



A lua se alinhou ao sol
Na concepção de um instante
E corações bateram
Na vibração efervescida do verão.
Era noite,
E o sol brilhava lá do fundo da tua alma
Chovia amor em meu sertão 
E um turbilhão de sonhos invadiu meu coração,
Enobrecendo minha ritmia.
Quando a lua se alinhou ao sol,
No passe mágico de um olhar,
Senti uma força torrencial.
Era água de março umedecendo minha solidão
Era lua nova
Como era novo aquele sabor
Que iluminava o eclipse em minha alma
Pra fazer brilhar as noites do seu sertão
Quando a lua se alinhou ao sol
Lançou a força da maré de março em meu peito
E fez chover amor
No calor do seu sertão
Sertão de faltas, sertão de sonhos
De ser tão distante
Mas próximo na minha evasão
Sertão de ser tão bela
A certeza da minha paixão
De que a lua se alinhou ao sol
Para fazer chover em seu pranto
Toda a minha emoção. 


"Este texto é para a melhor pessoa que conheci no mundo e agora está em outro plano. Fica bem, fica sempre em paz".

Coração branco e azul


De branco e azul,
Em um piscar de olhos
Virou meu céu.
Viajei pelo tempo de um beijo,
Aonde ninguém mais poderá chegar.
Senti profundo o seu sabor
Pela força do teu olhar
E pelo gosto da tua alma.
Sem metáforas, percebi meu encantamento
Na profundeza límpida da tua existência.
Quando te encontrei de branco e azul
Não parecia noite,
E você era um sonho
Que dançava em minha mente,
Ao som percussivo das estrelas.
Encheu minha vida de paz,
Trouxe ternura e alegria ao meu olhar.
Trouxe pureza, verdade e emoção ao meu penar.
Trouxe um mundo para dentro de mim
Pulsando nas ruas do meu pensamento
No toque acelerado das batidas
Do meu coração branco e azul,
Onde você se configura como o firmamento.
Madrugada de quarta-feira de Carnaval
2008. Quarta-feira de azul e branco.
Moabe Breno.

“Para a melhor pessoa que conheci no mundo.
 Fica bem, fica sempre em paz”.




Uma ode à desconstrução!


Cansei, literalmente cansei! Estou farto de toda a parafernália cartesiana que nos faz pensar ser gente pensante – ‘intelectuante’. Estou mesmo farto das posturas e pensamentos politicamente corretos que se dizem autênticos e são iguais. Cansei da voz antipática da Mariza Monte, gritando o gosto ordinário da burguesia patética que quer pontuar o bom gosto. Cansei principalmente dos intelectualoides arrogantes, que se dizem popular e avessos ao capital e comem no restaurante aquilo. Aquilo tudo que a indústria lhes oferece e lhes faz babacas.
Cansei dos comentários patéticos e repetitivos sobre a novela, sobre o arrocha e sobre a beleza. Cansei da teoria acadêmica da desconstrução na qual tudo vale a pena desde que não interfira no bolso de quem a propaga. Cansei desse negócio abstrato e falacioso de que o belo é relativo. É nada! Quem quer ser gordo? Quem quer ser barrigudo? Quem quer ser mal vestido? Quem não quer ser notado e elogiado? Chega de palhaçada.
Cansei da liberdade sexual. Quero sapatões parindo times de futebol, em partos cesarianos, para não sentirem dor, e veados fazendo filhos em todas as putas que puderem pagar. Quero a discriminação racial como ela é: sacana, perversa, totalitária, separatista e mesquinha. Ah! Chega de fingir que aceitamos os diferentes e só nos misturamos aos iguais.
Chega da política totalitária dos carros do ano. Quero IPVA alto, pra pobre só comprar carro usado ou andar de coletivos lotados. Chega da ditadura dos automóveis com suas estéticas brilhantes e prateadas, reluzindo o cinza blue do céu do Brasil baronil. Chega! Vamos rabiscar os carros, arranhar até trocar de cor, até agonizarmos e entendermos que não somos diferentes dos que criticamos.
Cansei também das ironias inteligentes, dos idiotas de plantão que discutem política e têm um jeitinho brasileiro de pagarem suas dividas. 
Cansei de achar graça da Ivete Sangalo, e dos babacas intelectuais que a chamam autêntica. Que mediocridade! Botam Ivete no lugar de povão e a fazem de palhaça, como o povo é.
Cansei das teorias partidárias. Quero misturar Freud com Nelson Piquet, Mandela com Bush, Platão com Psirico e Sócrates com Maddona. Cansei de discutir o preço de gasolina e de comer arroz integral pra ser pulsante.  Quero misturar veadagem com religião, putaria com indignação e normatização com liberdade.
Cansei de ver a elite intelectual bêbada ao som do Aviões do Forró, porque que não entende música clássica e não pode considerá-la diversão. Chega gente, de cultuar o que não entende! Vamos desconstruir!!!
Cansei desse povinho cartesiano, rococó, retrógrado e imbecil.
Só não cansei da Daniela Mercury, porque é a rainha do axé e axé é a construção mais escrachada que se pode ter sobre as determinações intelectuais.
Acabei!
  
Moabe Breno,
27-06-09.
      

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ecos soturnos da desconstrução



A cada texto, a tentativa de extorquir do sofrimento um pedaço de alegria.
A cada texto uma nova versão daquilo perverso dentro do peito
Escondido nas figuras de linguagem que compõem o estilo literário.
A cada texto uma nova forma de encarar a dor
E o apego ao que não tem mais jeito.
A cada texto uma busca inusitada pelo próprio eu,
Despejada nas metáforas de um sentido metalingüístico, solitário e acústico,
Que muitas vezes se confunde na confusão típica do gênero.
Há em cada texto uma predeterminação à fuga do possível
E um mergulho na sofreguidão da vida e na desaceleração do tempo.
Há, em cada texto, uma gota de sangue que escoa do peito
Ainda machucado pela força sagaz da imaturidade e pelo oportunismo sarcástico da mediocridade
Há, em cada texto, uma revolta, uma ironia, uma mancha causada pela distorção da dor.
Há sim, em cada texto, uma loucura complacente que nunca se rompe,
Mas que sente a dor de cada facada provocada pela constância do desamor.
 Há, em cada texto, uma tentativa de fuga,
A busca pela cartase,
A busca pela libertação do eu.
Há, em cada texto, ecos soturnos da desconstrução.

Moabe Breno,
09-03-11.


Afasia


Sem sentido, sem sentir, sem senso
Sem ser o que nunca fora antes
Sem optar pelo que pode ser distante
Sem saber o que passou e sem encontrar o que restou
Sem espaços, cem lacunas
Sem absorções, sem devaneio, sem compreensão
Sem rumo, sem fantasia, sem direção
Cem façanhas, cem falácias, sem exatidão
Sem sinônimos, sem ordem, sem semânticas
Sem contextos, sem metáforas, sem discursos
Palavras, palavras, palavras...
Cem palavras para expressar o sem sentido, o sem semântica, o sem amor.
Palavras, palavras, palavras...
Nem palavras podem expressar o que ficou.

Moabe Breno,
09-03-11.


quarta-feira, 2 de março de 2011

semiótica interior


Em um andamento corriqueiro e cotidiano
Vi as coisas saírem lentamente do lugar
A cada passo, a cada susto, a cada pulo
Uma nova forma de ver o mundo, de ver a vida
Passei a ver a vida como uma ostra
Fechado em um universo escuro, gosmento e mutante
E assim, no escuro do meu pensamento
Peguei a poeira que restou do furacão
E como um mutante, mesmo no escuro,
Grudei, com a minha gosma, o organismo estranho que se alojou em meu interior
E comecei a fazer minha pérola.
Do escuro estou tirando o brilho necessário para ver aquilo que a mim seduz
No escuro, passei a ver a vida de forma mais clara e mais firme
E começo a ficar livre em minha própria concha,
Percebendo pelo tato aquilo que tenho e que é meu de fato,
Percebendo pelo tato, aquele quem sou.
Cansei de ser apenas o meu retrato, a minha fotografia
Cansei de ser ícone das simplórias certezas
E índice de fragilidades e da incerteza do querer.
Tornei-me símbolo de mim mesmo!
Símbolo do mundo abstrato para receptores medianos,
Símbolo oculto para quem só percebe o óbvio como realidade.
Símbolo do acaso para os cartesianos!
Sou pérola com sentidos e semioses abstratas que revelam as concretudes do próprio ser.
Sou pérola que berra, que grita, que sofre, que chora, que busca a contemplação inacabada do amor.
Sou símbolo que reflete no escuro a semiótica interior.
Sou ostra sim!
E na imensidão do oceano, guardo a minha pérola para embelezar meus pensamentos e valorizar a minha essência.

Moabe Breno,
02-03-11.