domingo, 31 de outubro de 2010

Estilo Moabe



De lá do fundo do poço,
Comecei a perceber, pouco a pouco, aquele moço.
Horas frágil, horas forte;
Horas alegre, horas triste.
Horas simples como um papel,
Horas complicado como um origame.
Horas com palavras fartas e vocabulário denso.
Às vezes com estrofes repetidas,
Gritando pela libertação de si.
E fui subindo.
La estava ele:
Sofrendo, chorando, morrendo.
Morrendo em sentidos,
Morrendo em formas,
Morrendo em suas expressões e ações alucinógenas.
Parecia sentir dor...
E fui subindo.
Parecia amedrontado, humilhado.... cansado.
E curioso, fui subindo ainda mais.
E lá do meio do poço,
Não parava de olhar para aquele moço.
Me encantava.  Me assustava. Me perguntava.
Queria entender de sua beleza, de seus sentidos, de seu sofrer. De suas razões.
Era sem dúvida um estilo.
Estereotipado por seu corpo sarado e sua ‘danielidade’,
Ovacionado por sua excentricidade,
Ridicularizado. Por sua fragilidade.
Complicado? Não. Era um moço de verdade!
Horas frágil, horas forte;
Horas alegre, horas triste.
Invejável, talvez.
Desprezível, porque não?.
Incodificavel, com certeza, para mentes cartesianas.
Adorável, indubitavelmente, para corações abertos.
Pretensioso para si mesmo.
Doentio. Para a sensatez mediana!
ESTILO MOABE! Para aqueles que tentam lhe sucumbir.
E vou subindo...
Moabe Breno,
31-10-10.
  

  

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sapateiro da alma



Os livros são os sapatos que calçam a minha alma.
Sem eles, sou apenas um corpo comum
Como outro corpo qualquer em busca da perfeição física.
Sem eles,
Sou apenas um corpo inanimado
Como tantos outros corpos inanimados da cidade da Bahia,
Prontos para serem chupados, ‘fudidos’, gozados.
Os livros são os sapatos da minha essência, do meu sonhar,
Da minha fala.
Sem eles,
Sou apenas um pelegrino pela vida, sem força.
Sem resistência ao calor quando os problemas evaporam conturbações,
E mesmo sem resistência ao frio, quando o coração insiste na solidão.
Os livros apóiam os pés da minha inspiração
E me sustentam na imensidão dos meus quereres
Dos meus desejos e dos meus saberes.
Os livros são os motivos que nos tornam singular
E nos apontam como seres únicos e inigualáveis
Na imensidão das indagações, das conclusões e das falácias.
Eis aqui, o sapateiro dos livros,
Eis aqui, os sapatos que calçam a minha alma,
Os alicerces que sustentam a alma do mundo.

Moabe Breno,
06/08/09.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Decodificação da dor


De fato, sangro por dentro.
E aquilo que era sólido como o amor,
Entrou na grandeza mais rarefeita do desprezo.
Na ferida que você me fez,
Aglutinam-se ódio, rancor, incertezas e pavor.
Sua lembrança entrou na dimensão da amargura,
E suas marcas refletem apenas a arrogância de uma criatura evasiva.
Sua ingratidão trouxe afasia ao meu peito,
E sua fugacidade levou a beleza de minhas palavras,
Deixando apenas os signos mais soturnos do meu vocabulário.
Às vezes penso em brincar com seu nome,
Mas ele só rima com o silêncio e com a as dúvidas do acaso.
E lá se foram a mística da minha poesia e a amplitude do meu sonhar.
Sua imagem inspira-me apenas o vazio,
E as palavras recheadas pelo desamor.
Seu nome não poderia ser outro,
Mas não escrevo: a palavra tem força de atração.

Moabe Breno,
19-10-10.  


Música triste

Meu coração ta batendo no tom de tristeza.
Mudei as flores do lugar
Tirei o cone para o tempo passar
Mas nada faz você sair daqui do meu pensamento.

Meu coração ta batendo num tom de tristeza!
Vejo o dia passar e nada me faz alegrar
Somente a onda forte da sua voz vive a me cercar

Aonde eu vou, onde eu estou,
Vejo o mundo e em todo canto você não está
E o meu coração bate na freqüência atordoada dessa distância 
Mas bate sem sair do lugar

Um canto de desespero traz saudade
Um canto de tristeza traz você em minha mente
Sem nada a me dizer, sem nada a me ofertar

Esse batuque avassalador do meu peito 
E o tom de desespero da minha voz
Fazem a música triste do meu coração
Que bate no ritmo desentoado da solidão.

Moabe Breno,
sem data.



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Eu por eu mesmo

Na minha versão mais contemplativa do próprio eu
Torno-me cada vez mais a verdade da minha palavra.
Minha força está naquilo que acredito,
E minha beleza naquilo em que me transformo.
Se não for assim a razão de quem sonha
Como pode ser a pureza de quem ama?
O belo está ao alcance da visão da alma
E somente os olhos purificados podem enxergar aquilo cativante.
E somente os olhos purificados podem decifrar meus códigos atordoados.
Se sou louco, parvo ou descontente,
Se me falam desconsolado, deprimido ou fracassado
A mim, me chamo sonhador,
Se sofri ou sofro por amor
A mim, me chamo verdadeiro
E se zombam ou desdenham de minhas idiossincrasias
A eles, os chamo nada não.
Moabe Breno,
14-10-10

Amor fétido

Olho no entorno
E apenas olhos perdidos dissimulam a emoção.
Apresentam vibrações estranhas de um ínfimo amor
Que abisma a ostentação.
E no pulsar do olhar perdido
Um raio de traição da própria alma de quem contrafaz o sentimento.
Uma onda de desejo é atirada pelo canto do olhar
Em direção ao cálice ignorado.
Marcas de um passado conturbado,
Revelam um sentimento fétido
Um amor despedaçado pela arrogância
E indigestão da alma.
Marcas que se apresentam como ressaca de uma noite mal vivida
Um amor que se apresenta como vômito
Onde se tenta expulsar toda a bebida consumida
E se revela como um mal no interior do ser.
Um amor em forma de falácia
Verde como a bílis que sai do bêbado,
Revelando que ainda há dor naquele lugar
E denegrindo a pureza e imortalidade do sentimento.
Um amor fétido, que espera até o último momento para se esgotar e se curar
Um amor mal vivido nos braços de quem não sabe amar 
e na angústia do lírico abandonado.
Amar é intransitivo, já falaram.
Mas tem complemento labiríntico
quando se ama o inanimado. 
Amar é intransitivo e permanente
ainda que se julgue enfermidade
no peito daqueles que consomem o labirinto.

Moabe Breno
07/01/2008.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Coisas da vida

Algumas coisas da vida nos fazem feliz
Outras nos mostram parte do que somos
Partes que só aparecem quando temos propensão á descoberta.
Algumas coisas da vida nos fazem chorar
Outras nos fazem engolir as lágrimas
E saborear cada gota na ritmia do recomeço.
Algumas coisas da vida nos mostram o lugar do desconstruto 
E o tempo da auto-indagação.
Outras coisas na vida passam repentinamente
Como um raio ou um trovão
(e a rima é propositadamente pobre)
Ameaçam chuvas, mas são apenas garoas de inverno
Não molham, não causam arrepio
Não têm estigmas para provocar sensação.
Algumas coisas da vida
São somente coisas da vida,
Não têm razão, não têm dimensão...
São falácias passageiras sem alicerces, sem bases!
São prédios sem colunas, sem alvenaria...
São construções sem profundidades, sem tijolos e sem sentimentos.
São camisetas de etiquetas internacionais: não têm identidade.
Algumas coisas da vida são discursos do acaso
Sem mesmo coerências, porque não passam da primeiridade
São consciências medianas, formatadas pela plástica social,
Na moldura insossa da pequeneza cotidiana,
Não têm vocação surrealista, nem expressionista...
Mas estão libertas no espaço figurativo da estereotização.
Mil vezes os equívocos da política às certezas desses compostos inodoros,
Sem gosto e sem gás, dotados de verdades perfeitas.
Algumas coisas da vida nos fazem feliz; outras nos fazem chorar;
Outras nos mostram quem somos.
Outras coisas da vida só dividem águas, porque são tão homogêneas quanto
Não têm acidez, não provocam reações, são sempre previsíveis.
Algumas coisas da vida são apenas
Algumas coisas da vida.

...
  
Moabe Breno,
27/09/2008.

domingo, 10 de outubro de 2010

Ser errante

 Depois de pensar, pensar, pensar...
Resta agora chorar!
Resta nada,
Resta agora outra batida, de limão ou de maracujá
Não importa,
Resta mesmo qualquer motivo para mudar.
Resta uma porrada no passado,
Um tiro no acaso
E uma guerrilha na estupidez de quem não sabe se dar.
Resta uma artilharia inteira
Na guerra contra o passado
E contra a mediocridade do final
Final medíocre é final de babaca
De quem não tem nobreza, nem a presteza do sonhar
Resta apenas um passo à frente do que ficou para traz
Resta o orgulho de ser homem
De ser bom e de ser cruel também
Nada de piedade, piedade é flagelação,
Nada de desespero, desespero é insegurança.
Resta enfiar o dedo no cú do passado
Rasgar até a alma do que ficou
E não deixar que nada mais lhe perturbe
Resta ouvir mais uma vez a voz da desconstrução
E seguir em frente na linha do acaso, traçada pela intuição
Resta um apocalipse na cabeça infernal que insiste em bater contra o tempo
E tenta fundir o pensamento.
Resta então um tapa na pantera
E sorri do que passou
Como uma comédia de baixo escalão, uma zorra total mesmo,  
De quem nunca vai produzir um poema singular,
Somente por que não sabe, nem nunca vai aprender a amar.
Resta queimar e enterrar todo esse lixo
Porque passado mal vivido não se deve reciclar.
Resta mesmo recomeçar,
Sem verdades, de peito aberto, barriga tanquinho,
O corpo sarado com tudo que a alma traz de mais sagrado,
Resta mesmo chutar o pau da barraca
Sem medo de errar, de ser errante,
De ser sincero, de ser pensante...
de ser feliz.
Resta botar pra fuder em cima de tudo
e de qualquer imbecil que tenta lhe fazer sofrer.
Depois de pensar, pensar e pensar,
Resta chorar?
Resta nada,
Resta é viver.

25-05-08 Moabe Breno

Máscaras da destreza

É no brilho do olhar, dos raios que saem da íris,
Que se revelam os momentos mais bacanas de um encontro.
É no tempo de um sorriso que se reflete a mágica do encantamento
E a força da esperança.
É na troca de mãos que se observam as sinergias,
E os conturbados gritos das afasias,
Que pulsam no direcionar do corpo.  
E é nesse movimento, por vez, incongruente
Que se encontram as vibrações traiçoeiras do inconsciente.
São mais que palavras tímidas,
São atos falhos, revelando, sem propósito,
Os passos lentos e díspares de uma partida.
São momentos únicos que colocam uma porção de máscaras
No atordoado silêncio do coração.
Mas são máscaras de destreza que escondem
Um coração que tem voz baixa,
Que busca rimas inusitadas com a inconstância
E com a desconstrução porque sabe da reterritorialização.
São máscaras de um coração tranqüilo nas palavras,
Mas sôfrego na busca do seu tesouro...
Do seu mundo, de suas razões.  


Moabe Breno,
26/07/08.

sábado, 9 de outubro de 2010

O que dizer do nunca?


Sim,
Eu estou a sofrer por amor.
Um amor que nunca mais vai voltar.
Mas nunca, assim como sempre, tem sentido avesso.
E se o pra sempre sempre acaba.
O que dizer do nunca?

Moabe Breno
sábado, 09-10-10

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

De zero a dez

De zero a dez a vida muda como um passe de mágica;
Em alguns momentos parece que uma tempestade toma conta dos sentidos
E tudo vira uma conturbação:
O trabalho, os amigos, a cidade, os amores, a vida fica quase zero
E quando menos se espera... fica tudo zero mesmo.
O trabalho vira rotina entorpecente,
Os amigos chatos e com piadas sem graça,
A cidade, então? Uma merda... nenhuma novidade, chove e tudo fica sem graça.
E os amores? Quando aparecem são errados, não valem a pena,
só querem PEI!!!! E nada mais.
E assim a vida parece estar abaixo de zero;
Mas somente para aqueles que não sabem o poder do recomeço.
Afinal, aqueles que quando percebem que o trabalho virou rotina,
sabem rapidamente reinventar suas convicções e descobrir que pode ir muito mais longe do que o cotidiano lhe promete;
Aqueles que acham que os amigos ficaram chatos sabem rapidamente redescobrir a riqueza escondida lá no fundo de cada um...
E o que parecia uma amizade intolerante logo vira uma caixa de surpresa
E quando os amores são apenas trepadinhas fugazes, nada de angústia, afinal já dizia a ministra: relaxe e goze.
Fazer o que? Procurar, procurar, procurar?
Que nada! É muito melhor uma gozada que uma decepção.
E, no mais, quem sabe aproveitar a cidade sabe muito bem que em um dia de chuva, pode encontrar um amor da vida, se  escondendo dos pingos para não destruir a escova (ou não molhar os sapatos);
Ah! Assim a cidade vai ficando um, dois, três... 9,99
E o trabalho, os amigos, os amores, a vida ficam dez quando se descobre que tudo pode ser transformado em aprendizado;

em uma constante e doce oscilação de recomeço,
Onde o descontentamento das rotinas, das chatices, da fugacidade e das chuvas pode virar contentamento nas paredes de quem sabe amar de verdade e se encontrar continuamente nas vibrações entre zero e dez nos espaços da alma e do mundo.


Moabe Breno,
08/08/07

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Simulacro existencial

Pensar na vida não é criar simulacros existenciais
Pensar a vida é vencer as dores
E, às vezes, transformar sofreguidão em loucuras.
Para que buscar a razão das conturbações
Quando elas são frutos dos desesperos da paixão?
Buscar razões para quê, quando as loucuras vêm da alma?
E não há razões para nada, pra quem faz da vida um simulacro existencial.
As razões da vida não estão na mente, mas sim nas sensações.
As razões da vida estão nos momentos daqueles que sentem
E sedem lugar às vibrações do coração.
Construir as sensações como reações fugidias
É construir afasias no limiar da própria razão
É ação de quem ocupa o espaço dos simulacros,
Onde a realidade apenas são emoções inacabadas
Como as razões de um orgasmo inútil e vulgar...
 E estúpido, porque é vazio!
Controlar sentimentos é fazer da vida um simulacro existencial
Coisas que transformam silêncio em solidão.
Nas simulações, os fracos, os covardes e os egoístas
Chamam da paz aquilo que não sentem
E que correspondem às expressões inacabadas
De uma felicidade arrogante e covarde
Uma felicidade meio termo porque é pedaço de estupidez
Uma felicidade adimensional, parva e descontente
Porque está bem perto da inexistência
Mas felicidade, a cascata pequenina, não é para qualquer um mesmo
É somente para aqueles que sabem dar vazão aos próprios sentimentos
Porque a felicidade sabe transformar a dor em compaixão
Ausência em produção
E decifrar os impulsos resultantes de vibrações virtuais
Dissimuladas nas fugas medianas de um simulacro existencial
...
06-02-07,
Moabe Breno.

No inconsciente da paixão

Não é a toa que iniciamos o dia pensando no amor
e na pessoa amada;
Não é à toa que passamos os dias vivendo em buscas inacabadas.
Buscas que às vezes parecem apenas ilusões.
E às vezes são ilusões
Mas são estas ilusões que alimentam os sentimentos
E amadurecem a alma
São estas que dão inspiração para o impossível
e transformam em infinito o que parecia interrompido
e são estas mesmas ilusões do amor e das paixões
Que se alojam em nossos tempos
Invadem nossos espaços e nos preenche, muitas vezes,
Com o vazio da solidão
E tudo é mágoa, desespero, revolta e destruição.
O mundo vira ao avesso
A hora passa como um tormento
E no peito a única resposta é a explosão
Tudo isso no compasso nebuloso do que parece ilusão,
mas é um amor escondido no ego da emoção e no superego da razão.
Não é à toa, então, que iniciamos o dia pensando no amor
e na pessoa amada.
Iniciar o dia pensando no amor mal resolvido
e na paixão atormentada
É ter a certeza no espaço do inconsciente
de que o mundo pode ser revivido,
redescoberto em outra dimensão
onde a imagem matinal da pessoa amada deixa o status de ilusão
e vira reinvenção de uma nova vida
de uma nova estrutura.
Uma releitura entusiástica inserida na mudança,
Uma releitura que descompassa o formato da ilusão
E a remodela na loucura exata da paixão,
E da pulsação mais descarada e da verdade inacabada
do amor do início da manhã,
alojado no inconsciente insano
de quem se ilude de que tudo é ilusão.

Moabe Breno,
12/09/07

Furacão

Um furacão passou em minha aldeia nesta semana,
Olhos expressivos, alma elevada e corpo desenhado
Mas, atento e minuciosamente, a desnudá-lo
Eu preferia desvendá-lo.  
Era um vento quente, que saia de sua alma
Nada de soberba, nada de soberania,
Mas era rei naquilo que falava,
Porque falava o que acreditava.
Era um furacão que aquecia a minha alma.
Dos olhos, emanavam raios fortes
Que em vez de destruição,
Deixaram ali naquele lugar onde se instalara
Tijolos e cimento para a construção.
E estava ali, na minha frente,
Aquele furacão de alma elevada,
Alma pura que me invadia pela madrugada
e roubava a minha atenção.
Fazia-me sorrir de mim mesmo
Na leitura contemplativa de sua vida
E trazia calmaria com aquele brilho forte
Que saia do seu corpo.
Corpo fabulosamente desenhado,
Com pedaços encaixados como uma montagem virtual,
Mas era físico e era lindo e era real...
Era um furacão! E nada parecia lhe abalar.
Alinhava tijolos feitos de pureza
Com cimento composto por esperança...
Era capaz de edificar qualquer prédio
No coração de quem soubesse lhe encontrar.

Moabe Breno.
18/07/08 

Cacos de tortura



O tempo dá voltas e passos irregulares
Passos que conduzem os caminhos a espaços desconhecidos.
Nada é em vão, mesmos as coisas que se tornam um vão
E se perdem nos caminhos nebulosos
E se tornam fugazes nas voltas do tempo.
Pois o tempo que é sempre um remédio
Traz, por vezes, um efeito colateral.
E o efeito é a dor, quando se volta aos espaços desconhecidos.
E tudo dói no formato de lembrança
De um tempo mal vivido, forçado e sofrido.
E a lembrança nessa hora é a máscara da tortura.
Mas a tortura é também uma forma de cura
É cruz que exorciza e tira mau olhado
É mandinga que retira o desespero do passado.
A dor é um remédio que o tempo traz
Quando se procura por tudo aquilo já morto
E mumificado em um peito desacelerado com a idéia da ressurreição.
Não é doença, nem devaneio
É apenas pensamento insano
Que se quebra na mente tola
Como o vidro que despenca das mãos do desastrado.
Ficam os cacos por toda a memória.
Cacos que o tempo vai lentamente varrendo
Mas sempre ficam cacos de tortura
Escondidos lá no canto, onde distraídos nos cortamos.
E a dor nos leva aos espaços desconhecidos
E nos afunda nos caminhos nebulosos por onde passamos,
Onde sempre chegamos com nossos passos irregulares. 

Moabe Breno,
03-01-09.
 




terça-feira, 5 de outubro de 2010

Se enfrente e cresça

Muitas vezes encarar o desconhecido é uma forma de fuga;
E quando se está fugindo não há crescimento, ao contrário, há estagnação.
Crescer é enfrentar as dores, as dúvidas e as angústias alojadas no conhecido.
Quando migramos para um espaço desconhecido em busca de crescimento
Estamos abrindo a guarda para sermos manipulados, induzidos e fragilizados.
Ficamos a mercê da malicia e mau caráter de quem se aproxima
Só que algum dia as dores, dúvidas e angustias voltarão a atormentar,
A não ser que nos deixemos contaminar pela frieza, arrogância e mediocridade de quem nos rodeia.
Porque quando estamos angustiados e alguém nos propõe mudar para aniquilar a angustia, esse alguém só pode ser um sujeito espiritualmente medíocre, aqueles que sucumbem os sentimentos e a humanidade aos interesses próprios e não tem coragem de se olhar e se enfrentar.
Geralmente usam, com frieza, seus conhecimentos para manipular aqueles e aquilo que desejam.
Aproveitam as dores, dúvidas e angústias que nos tornam frágeis e nos manipulam, nos conduzindo para um caminho realmente desconhecido e perigoso – o da dor.
A mudança verdadeira só vem após o enfrentamento do eu, e aí não passamos do conhecido para o desconhecido - aí evoluímos.

Moabe Breno - 05/10/10

Porto da Barrra

De vez em quando tenho uma estranha mania:
Junto palavras para fazer poesia
Mas, de vez em quando, quando o sol bate lá no Porto
Atraco minha âncora no horizonte da sagacidade
E deixo o próprio corpo falar meu sentimento
Tudo é festa naquele lugar, onde o mar é água calma pra namorar
Onde tudo é possível no espaço infindável do deseja e da mensuração do nada.
As idiossincrasias são todas físicas, com músculos, pele e testosterona  
São marcas da vida expostas nos peitos abertos
Sarados para exibição e dispostos à consumação.
Lá estou eu, no meio da Cidade da Bahia,
Fazendo rima com corpo, sexo e ousadia
Devorando tudo que os superegos não conseguem ler
Mas que se faz concretude propulsora da verdadeira poesia,
‘Somente porque tenho essa mania’.
Lá no fundo, naquela concha aberta, onde o tempo pára
Há palavras soltas em compassos progressivos de tantos e tantos gritos
Gritos de fome pela ardência sanguinária dos desejos congruentes
E dos passos lado a lado com a sede de suor
Mais uma cerveja ‘seketário’!
E eis a rima maior do lugar:
Mais uma, duas ou três doses de orgasmos
Todos bebem muito bem e decifram pelo olhar,
Toda malícia que os símbolos lingüísticos não dão conta de decifrar...
Todos sentem, a cada verão, os exageros libertários daquele atracadouro.
Um espaço desconexo de toda a lógica de qualquer estação.
A poesia, lá, está contida em cada corpo em meio às fumaças da contravenção 
Levando a mística da desconstrução que fragiliza os horizontes da moral. 
O sintagma dominante é a desordem ordinária da sedução.
Vejo o mundo ao avesso, sem medo e sem pudor,
Esqueço a estranha mania e faço poema com o corpo,
A cada temporada lá no Porto,
No verão do Salvador.

Moabe Breno,
24/04/09... são as águas de março fechando o verão.  

A pedra do caminho

Deixei de ser a pedra do meu caminho,
Estou aprendendo que o caminho é um só,
Mas tem curvas, engarrafamentos, retornos e buracos.
E às vezes é preciso cair para entender que é importante
Ficar em um engarrafamento ou mesmo pegar um retorno.
Às vezes é preciso se engarrafar para explodir na vida
E às vezes é preciso retornar para entender a estrada e poder continuar.
O estranho nisso tudo é que só percebemos que há pedras no caminho
Quando caímos em um buraco
E  geralmente é um tempo de chuva
Não percebemos os perigos da estrada e fica mais difícil enxergar a solução.
Quando caímos é preciso ir até o chão,
Pegar força, respirar e subir na marcha um, dois e três... até chegar à velocidade desejada.
Estou saindo do buraco,
Cada dia com uma nova marcha
E as pedras do meu caminho estão sendo alicerces da minha subida.
Aquelas que me fizeram derrapar, sãos as mesmas em que piso para subir.
Porque nada pode ser mais forte que a necessidade de ser feliz.
O ruim nisso tudo é que para subir às vezes temos que deixar coisas e pessoas que amamos.
Deve ser por isso que toda estrada tem curvas, buracos engarrafamentos e retornos.
Moabe Breno,
07072010.

Cronologia


A rejeição antes da concepção,
A noiva rasgada,
A peça negada,
Perdi a competição,
Perdi a competição,
 Perdi a competição.
O olhar nunca em mim,
O abandono no fim de semana,
O ritual preterido,
A camisa negada,
O mudo violão e a cama sem gozo.
Perdi a seleção,
Perdi a seleção,
Perdi a seleção.
A dor negligenciada,
O sonho nunca acabado,
A vida calada,
A auto-estima anulada.
Perdi a razão,
Perdi a razão,
Perdi a razão.
O passo sem rumo,
O discurso vazio,
O inconsciente da rejeição,
Perdi o amor,
Perdi o amor,
Perdi o amor.
 A sala sem nada,
A cama fria,
O espremedor de batatas.
Remédios para dormir.
Remédios para me recriar,
Remédios para sorrir,
Remédios para ganhar a competição,
remédios para ganhar a seleção,
Remédios para ganhar a razão.
Remédios para trazer você de volta pra mim.

Moabe Breno,
04-09-10.

Limpeza


Comecei o domingo me limpando. Lavei eu mesmo minha casa, minhas roupas, o travesseiro e o banheiro.Tirei suas mãos da parede e todas as marcas suas que ficaram em minha alma. Não por falta de amor, nem de vontade sua. Mas porque finalmente escutei a voz do anjo dizendo que tenho que te deixar livre para voar e voltar. Essa semana, descobri o quanto amo, o quanto sei amar, o quanto tenho fé e o quanto posso acreditar. Planejei algo com a morte, mas desisti do encontro na última hora. Quer dizer, um anjo, talvez o mesmo de outrora, mandou Andréa me flagrar e só poderia ser Andréa Fraga. Optei pela vida e pela limpeza da casa, da alma, do corpo.  Alguém que sabe amar como eu, são poucos, não pode ficar vagando como assombração. E resolvi então viver minha paixão, o que realmente sei fazer. Sei amar. Amar intransitivamente, sem nada para complementar. E se me chamam louco, maluco ou angustiado... azar. Quem ama, ama e amor não se acaba, amor se renova e a ciência não pode jamais explicar. É bom sonhar com quem se quer, com o que se deseja, e com o que se almeja. É bom se superar por amor e pela fé.É bom descobrir após 35 de anos de perdas, que se pode ganhar e é bom encontrar motivos para mudar. Esvaziei  tudo em mim que me magoava. Parei de me preocupar com a conta que não posso pagar; com a prova que não fui aprovado e com o passado angustiado. O que passou não volta. Quem quer angústia¿ Fechei a página do sofrimento e agora vou cuidar de amar a mim também. E se a vida e o amor foram severos até agora vou ostentar o que há em mim de melhor– a caridade. E se o tempo foi severo e não me deu tempo de me curar, azar. Porque quem ama sabe ser feliz, mas quem deixa de ser amado, quebra o nariz.
Moabe Breno,
26-09-10.