sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Pêndulo



Fraco, forte
Fraco, forte,
Fraco, forte
... forte
Fraco...
Vivo, morto
Vivo, morto
Vivo, morto
... morto,
Vivo...
Quem está aí?
Atolado até o pescoço.
Pra lá, pra cá
Pra cá, pra lá
Pra cá, pra lá
Pra lá, pra cá
La se vai o céu
La sei vai o sol
La se ver o horizonte
Cá começa o céu
Cá se tem o sol
Cá se perde o horizonte.
 Quem está aí?
Pendurado pelo pescoço.
O forte,
O fraco,
O vivo,
O morto
O céu é o limite onde tudo começa pelo avesso.
Pra lá, pra cá,
Pra onde?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Fuga



Hoje eu não quero contemplar a tristeza
Nem me queixar da solidão
Quero escrever coisas bonitas
Para alegrar meu coração

Não vou relatar as mágoas
Nem os desacertos da paixão
Quero esquecer todo sofrimento
Que sempre fora minha fonte de inspiração

Francamente, não quero escrever verdades,
Prefiro ater-me a essas coisas de televisão
Que falam de alegrias, de amor de felicidade
Sem que ninguém perceba que é tudo ilusão.

Vou escrever sem luzes
Para ver minha vida na escuridão
Assim posso passar por ela
Sem perceber meu estado de depressão

Vou isolar meu sentimento,
Trancafiá-lo perversamente, sem oxigênio, em um indestrutível caixão
Não vou lembrar tua ausência em um lamento
Vou pra a rua, para não saber que não recebi tua ligação.

Moabe Breno,
Sem data.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Texto nude


Hoje tive a certeza que a solidão é minha mãe e meu pai é o acaso.
Hoje descobri tudo aquilo que me tortura
E que me torna enfermo e dependente dos signos da tristeza.
Sou soturno por nascença
E feliz nas inconstâncias da vida.
O amparo materno é leite derramado em cobranças e nuances do cotidiano
E o seio onde nunca repouso é descaso do acaso, com suas frustrações e medianidades de uma vida afundada em autoreprovação.
E sem fé, sem rumo, sem alma.
Sigo a toa na vida, buscando as colinas do sagrado
Em meus textos amargurados e cheios de vontades utópicas do reencontro.
Não quero mais a felicidade passageira do fim de semana
Se esvaindo em copos de cervejas furados.
Não suporto mais a ditadura da alegria da Bahia
E já nem me sacode mais o suingue da cor.
 Filho do abismo em um mundo surrealista
Pintado com as cores do nublado,
Sigo nude na comunhão abstrata da construção familiar.
Minha mãe é solidão e o acaso não me surpreende,
Mas a solidão me vampiriza como um superego predador
Que afina suas frustrações a minhas vontades de ser feliz.
A minhas utópicas vontades de ser feliz.
Moabe Breno,
17.11.10.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Texto conjugal



Te quero!
Te quero sim. E te quero bem bacaaana!
Te quero conquistar com a certeza do acaso
E com as expressões mais banais do cotidiano.
Te levar para tomar um sorvete na Ribeira
E banho de mar, logo cedo, no Porto da Barra
Para não queimar sua ‘baianice’ ariana
Nem desvendar sua pureza machadiana.
Te quero encantar com a franqueza sagrada dos meus versos metalingüísticos,  
E com os segredos mais profanos do meu samba e raiz.
Te quero rezando, te quero dançando, sorrindo e chorando.
Ah! Te quero.
Te quero sim. E te quero bem bacana!
Quero te levar para o trabalho,
Falar teorias pós-modernas para penetrar em tuas vaidades
E contar casos engraçados para ver nos teus olhos tua gargalhada ‘insinuosa’.
Quero desmistificar as tuas certezas e deixá-las pelo avesso
Navegar na tua ânsia de futuro e te acalmar com meu calor presente.
Te quero!
E te quero também desvendando minhas palavras
E viajando no meu vocabulário denso e desgastado dos sintagmas inseguros do passado.
Te quero sem promessas, sem verdades, sem excessos e sem ‘pra sempre’.
Te quero transitivamente como complemento corporal direto.
E as palavras, palavras e palavras¿
Que desnudem nossos passos, compassos e amassos
Em um texto atemporal, mas conjugal.

Moabe Breno,
28-10-10.     

sábado, 13 de novembro de 2010

Hemorragia metafórica


A alegria estonteante do futebol
Fez-me pela primeira vez querer exterminar meu estado de Bahia.
Fechei as janelas e as cortinas do peito para não ver o mundo lá fora
E mergulhei na virtualização de minhas idiossincrasias e palavreados.
E a constância metamórfica que se diz típica do ser humano,
É o único alicerce que alimenta uma probabilidade qualquer menos esquizofrênica que a solidão.
Alguém tem algum remédio antimonotonia?
Pois hoje me irrita a dependência baiana da alegria.
Por toda a parte, os cacos enfermos das lembranças
Cortam meus pulsos e disparam hemorragias metafóricas em uma narrativa altamente metalingüística e incongruente.
Mas que talvez seja a possível coerência discursiva que há na imaginação soturna na flânerie  dos sentimentos,     
Ainda que se tente uma construção pós-moderna.
Moabe Breno,
13-11-10.


  

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Passado cadente



Hoje é um daqueles dias em que bate uma vontade de nem sei.
As coisas passam desapercebidamente
E a lembrança é uma válvula afiada em meio ao turbilhão de temas cotidianos.
Os espaços do passado retomam ao peito com formatos diversos
Em sistemas, convicções, confabulações e elaborações poéticas.
As sínteses se aproximam no formato muitas vezes de ‘porque’;
E a busca inacabada por responder o que está dentro de si
Torna-se um sintoma apático da solidão.
Hoje sim,  é um daqueles dias em que bate uma vontade de nem sei.
Mas nem sei o que?
Lamentar o que se foi como estrela cadente
Que o apreciador insiste em fazer um pedido quando a vê perdendo a razão de ser
Em seu movimento progressivo de despencada?
Mas é possível fazer um pedido àquilo que não mais tem brilho?
Então o passado se é passado é uma estrela cadente.
E qual o efeito em se fazer um pedido ao passado cadente?  
Retomar o fel no hálito do lírico abandoando?
Atirar no ridículo que passou para destruir os sintomas da arrogância?
Talvez seja só mais uma forma do ‘nem sei’.
Mas o nem sei é vontade de incerteza.
E a incerteza, me parece, é apenas pretensão alucinógena
De quem insiste em mergulhar no passado cadente.    
 Moabe Breno,
11-11-10.

domingo, 7 de novembro de 2010

Texto simples


Fiz um texto pra você gostar de mim;
Com rimas ricas que emanavam do meu pobre coração.
Era um texto simples, porém,
Que tratava da fragilidade do sentimento
Do guando a gente encontra alguém.
Era um texto com as cores de Frida
Palavras fortes traçavam o desejo ardente
Que da concretude se fazia o exagero da criação.
Eram, de fato, escavações do pensamento, as palavras.
Eram retratos da imaginação fervorosa
De um encontro mágico que existe ainda no pulsar do peito;
E nunca sai daqui.
Fiz um texto pra você gostar de mim
Com arte neoexpressionista também
Misturando palavras e sentimentos nas páginas do tempo.
Eram sentimentos verdadeiros,
Escritos com as cores das lágrimas
De quem chora pra dentro para não ver a solidão.
Fiz um texto pra você gostar de mim,
Do que sou, do que tenho e do que sei sonhar.
Era apenas um recorte da vida,
Com um pouco de esperança
Contida em um poço de sonhos,
Onde se cabe um verdadeiro amor.
Era um texto simples,
Sem medo de amar, mas para curar o sentimento triste,
Registrar cada momento frágil,
E eternizar tudo o que a gente fez.
Era um texto simples, sim,
Que continha minha raiva, minha força, minha dor.
Era um texto com amor,
Escrito somente para você gostar de mim.

Moabe Breno,

29/03/2009.


sábado, 6 de novembro de 2010

Descoberta



A cada encontro, uma percepção maior do encantamento 
E se se escasseiam palavras para descrever os momentos
Não é a ausência de emoção nem de sentimento
É porque elas não são suficientes para captar a Capitu que há em tu.
Se faltam expressões lingüísticas
Para explicar as razões de cada chamada,
É porque o encantamento ultrapassa as dimensões do previsível,
É porque os signos não podem interpretar os mistérios do teu olhar.
Ou porque sabem que não podem te desvendar.
Se faltam expressões idiomáticas para a narrativa presente
É porque a língua portuguesa, em toda sua complexidade,
Não é suficiente para relatar a pureza nem o brilho do teu sorriso.
Se faltam elaborações poéticas com rimas ricas
É porque não é possível combinar tua essência
Com os sintagmas vivenciados pelo intérprete,
Somente pelo teu toque e pela destreza do teu olhar
É possível penetrar na profundidade de tua essência
De tua alma...
Em você.

Moabe Breno,
06-11-10.