sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Razões da existência



A primeira acordou cedo e abriu a porta,
Seus olhos eram pura lágrimas
Lágrimas de quem apenas queria um abraço e a benção.
Lágrimas de quem não tinha palavras para descrever os sentimentos.
Eram lágrimas de amor.
A segunda, ainda na cama, me chamou meu filho.
Já sem lembranças,
Não falou meu nome, não sabia de onde vinha, nem o que fazia,
Mas seus olhos eram pura felicidade.
E no decorrer do dia,
Vi o amor ali sem detalhes, sem lembranças,
Era um amor, um verdairo amor que somente a alma pode entedender.
A terceira chegou depois,
A alegria estava em todas as suas expressões
E seus olhos brilhavam como sempre,
Na mais pura contemplação da minha imagem,
Contou seus casos,
Falou suas proezas e me lembrou minha Inha.
E Inha também ali,
Com a igenuidade interiorana em seus olhos,
Me mostrava que é preciso pouco para ser feliz,
E eu, sem rimas, sem reflexões, sem metáforas sem analogias,
Sem devorar nenhum substantivo abstrato,
Entendi, de fato, as razões da existência.

Moabe Breno,
24/12/10.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Dissertação do fim





Construi todas as expressões imagéticas da loucura
Usei todas as figuras de lingaugem do amor
Despedacei as peças do meu quebra-cabeças
E rabisquei todos os rascunhos do incosciente.
Criei histórias, me refiz, me perdi em mim mesmo
Gritei, chorei.... sofri.
Mas você não me achou.
Desfiz os erros, errei mais uma vez,
Cavei um caminho no meu mundo perdido,
Voltei do meu abismo soturno
Rezei, comi... amei
Mas você só se vingou.
Te neguei em todos os tons
Te recompuz em todas os versos e prosas que produzi.
Te pintei com as minhas cores
E dediquei a você todas as minhas vozes
Inclusive as vozes do meu silêncio.
Mas você não escutou.
Te inventei como um amor,
Te neguei como a dor,
Te misturei em minha química,
Lamentei a sua ausência
E humilhei a sua essência.
Apenas queria ver você voltar pra mim.
Você me ignorou.
Fim.
Moabe Breno,
23/12/10.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Veneno da alma



De vez em quando o silêncio me toma
E uma força estranha doma o peito.
Não sei bem se é desejo, angústia ou tristeza
Mas sei o que povoa minha mente nesse momento.
É um pensamento que mais parece um veneno,
Que corta a respiração e inibe qualquer possibilidade de movimento.
É um pensamento que torna estático o pulsar do coração
Porque age de forma intensa e corrosiva na memória.
Vai lá dentro, pega tudo aquilo que faz mal
Pra tentar dizer que não é saudade o que se sente
Pra tentar convencer que a ausência é solução.
É um veneno que engana, que cega, que puxa a vida para um lado tenso
Que puxa o sonho para um estado obscuro, turbulento e vingativo.
É um pensamento que engana. É um veneno da alma.
É veneno que faz da alma insumo da lama
Na mistura de letras em palavras sem sentidos exatos
Na construção de frases paradoxais
Para desmistificar as incoerências da cama e os exageros da paixão.
É um pensamento forte, sim!
É saudade? Sei não.
Mas é um veneno na forma de passado que domina o tempo
Em alguns instantes de reprodução, de catarse , de desabafo. De desenganos.
É um pensamento entorpecente que se configura como vício da psique
E deixa em aberto os sentidos da imaginação.  
Moabe Breno,
07/12/10.



sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Chegou. Ela chegou aos 36


A felicidade bateu hoje em minha porta,
Não poderia ser presente melhor.
Chegou lentamente sozinha.
Sem gritos, sem amores, sem mãe, sem dinheiro.
Chegou bem malemolente com toda sedução e malícia da Bahia
Chegou fazendo rimas simples com a alegria e com tudo aquilo que inspira harmonia.
Chegou com samba, com rock e com reggae
Fez batuque em meu coração e fez dengo em minha alma
Entoou uma música alegre e me mostrou a sagacidade em cantar um enredo triste.
A felicidade chegou, levando consigo o tempo ruim e tudo aquilo soturno de outrora.
Ela chegou! Foi chegando de mancinho e eu nem percebia 

Há muito, ela já estava ali, o tempo todo...
Eu nem via.
A felicidade chegou vestida de branco, com o peito aberto e saradíssimo.
Afirmou as hipérboles mais loucas de meus contextos,
Rabiscou as memórias inacabadas e dominou os sentimentos obscuros do pensamento.
A felicidade chegou sorrindo,
Sorrindo para ninguém.
Sorrindo para si mesma,
Sorrindo para a dor, para a tristeza, para a angústia e para o sofrimento.
A felicidade chegou na sua forma mais louca e direta,
Sem arrogância, sem exibição... discreta como ela só, em sua forma verdadeira e exuberante.
A felicidade chegou feliz e se alojou em meu peito,
Na forma de esperança, de encantamento, de hoje e de manhã.
A felicidade chegou lentamente sozinha, aos 36.
Sem gritos, sem amores, sem mãe, sem dinheiro.
Não poderia ser presente melhor.
Moabe Breno,
03/12/10.