domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cinzas do amor


 

Escutei o tempo todo aquele grito de desespero.

Era mais a voz da tristeza, do abandono, da solidão.

Eram expressões sôfregas de quem compulsivamente sentia saudades.

Ali, naquela tarde de domingo pós-carnaval,

Ele lamentava a falta de tudo: da alegria, da brincadeira, da companhia... da felicidade.

Olhava seus olhos lânguidos, corroídos pelo abandono forçado em que se encontrava.

Em sua dor, estava a confissão mais estabanada do pesar.

Não tinha como esconder de quem por ali passasse a falta de tudo que vivera.

E revelava sim, no canto soturno da sua alma, os momentos mais sublimes da contemplação do outro, do amor.

Em seu grito de amargura, em seus gestos de descompasso, em sua busca desenfreada,

Estavam a angústia de quem espera e a mágoa da solidão.

E em cada ato seu, eu via a extensão do amor.

Em cada soltura da sofreguidão, eu via a sensação do fim.

E naquelas expressões sôfregas eu sentia a tarde de domingo pós-carnaval.

Era um domingo de cinzas desgastadas pela ânsia do amor;

Buscava versos, palavras, elaborações frasais... mas não conseguia traduzir aquele drama.

Aquelas expressões sôfregas corroídas pelo abandono forçado daquele gato

Eram, sem dúvida, as canções mais fúnebres do folião que espera ansiosamente pelo amor do carnaval.

Um amor que talvez não se viva nunca mais.

Um amor de outrora, percebido nas ilusões do ébrio pela dor.

Era o amor daquele gato;

Que teve raptados sua mãe e seus irmãos

E permaneceu só, durante a folia, no quintal daquela casa lúgubre até o domingo pós-carnaval.   

E só as cinzas do amor.

 

Moabe Breno,

17-02-2013

 


 

 

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