segunda-feira, 9 de maio de 2011

Abstrações da maturidade




Era apenas uma criança.
Olhos de homem, pegada de homem, sexo de homem...
Tinha barba e sua barba arranhava.
Mas era apenas uma criança.
Traçava as teorias do mundo facilmente,
Decodifica a política e a economia com a razão da semiologia.
Mas, no íntimo, era apenas uma criança.
O calundu era a forma de conquista,
E a mal-criação era para chamar a atenção.
Não guardava mágoas, nem rancor.
Não entendia o ódio.
Guardava em seu campo afetivo a pureza da inocência.
Sentia dor, chorava, tinha medo do escuro.
Era uma criança de olhos tristes,
Travesso sim!
Lá dentro de si, era apenas uma criança órfã.
De alma pura, coração leve, fazia o que o inconsciente dizia.
Ninguém o compreendia. Ninguém queria, nem podia.
Era ainda uma criança aos 35,
Calçava os sapatos que comprimiam seus sentidos
E em meio às metáforas, hipérboles e metonímias de seus discursos,
Esforçava-se a compreender o mundo de um modo abrupto e severo.
Imprimia seus impulsos infantis na voz e braços fortes de adulto,
No grito agressivo do homem sofrido,
E na fragilidade angustiada de pessoa sensível.
Era mesmo um homem abstrato!
Cujo inconsciente o fazia sofrer, chorar, gritar...
Sentia o mundo de um modo tão genuíno e tão peculiar
Que suas sensações serviram de arma para os sacanas que quiseram lhe magoar. E magoaram.  
Era mesmo uma criança na capa de um homem que a vida toda se negligenciou.
Era, em síntese, uma criança, que encarou sua dor quando entendeu a rima rica com o amor.
Era, de fato, uma criança que na abstração da maturidade, perdeu o medo de se expor.

Moabe Breno,
08-05-11.




Um comentário:

  1. Esforçar-se para compreender o mundo é sempre uma tarefa árdua e dolorosa... vestir corpo de adulto também... e se expor, qtos riscos oferece...
    Você é um gênio que acaba de me dizer pq gosto tanto do carnaval, quando tds nos comportamos como crianças no meio da rua...
    Amo vc, coisinho!

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